quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cursos técnicos na d'Orfeu Som+Iluminação

 Som e Iluminação:
mais cursos técnicos na d’Orfeu

ÁGUEDA, 31 Outubro a 7 Dezembro 2011

Após a adesão das anteriores edições, a d’Orfeu volta a apostar na formação técnica no âmbito das artes do espectáculo: Som e Iluminação. Estes cursos funcionarão de forma independente, visando a qualificação de técnicos profissionais mediante uma formação teórico-prática. Decorrerão em Águeda, em horário pós-laboral, de segunda a quinta-feira consoante as áreas, entre 31 de Outubro e 7 de Dezembro de 2011. O período de inscrições decorre até 28 de Outubro.

Orientados curricularmente por Rui Oliveira (Som) e António Costa (Iluminação), ambos formadores com vasta experiência profissional nas respectivas áreas, estes cursos pretendem colmatar a crescente necessidade de qualificação profissional no âmbito da produção técnica nas artes performativas, destinando-se a todos aqueles que trabalham ou pretendem trabalhar como técnicos, amadores ou profissionais.

Os cursos funcionarão com um nº mínimo de inscritos, estando as inscrições abertas até 28 de Outubro. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail dformacao@dorfeu.pt, no site www.dorfeu.pt, pelo telefone 234603164 ou presencialmente na d’Orfeu. Os membros das Associações do concelho de Águeda beneficiam de um desconto de 50% nas inscrições, no âmbito do Protocolo em vigor entre a d’Orfeu Associação Cultural e a Câmara Municipal de Águeda.


6º Curso de Som
d'Formador: Rui Oliveira
31 Outubro a 7 Dezembro 2011
sessões às segundas e quartas, 19h30-22h30

145€ (130€ cartão d’Orfeu)
carga horária total: 36 horas em 6 semanas
O Curso intensivo de Som e Produção Áudio é uma abordagem teórica e prática à produção técnica e registo do espectáculo. Captação e reprodução, equipamentos e espaços acústicos são os intervenientes da cadeia de áudio. Os participantes terão contacto com as “máquinas” e as técnicas necessárias, servindo como base para a produção e a devida entrega de um espectáculo.

2º Curso de Iluminação
d'Formador: António Costa
1 Novembro a 7 Dezembro 2011
sessões às terças e quintas, 19h30-22h30 (em confirmação)
165€ (150€ cartão d’Orfeu)
carga horária total: 36 horas em 6 semanas

Este curso aborda as várias etapas a ter em consideração na iluminação de cena de um espectáculo. Uma abordagem aos requisitos técnicos necessários à realização de iluminação técnica, respectiva logística e aos métodos fundamentais para obter o resultado desejado.


Notas biográficas dos d’Formadores

Rui Oliveira
Sonoplasta e músico, fez o Curso Profissional de Engenharia de Som na Escola Microfusa em Barcelona (reconhecida pela AES, Sociedade de Engenheiros de Áudio), especializando-se em “Espectáculo e som ao vivo” e “Som em cinema”. Simultaneamente frequentou o Curso de Música no Conservatório Oficial de Música de Badalona na Área Jazz. Depois de ter trabalhado, em Barcelona, em várias empresas de som como freelancer e tocado em vários projectos musicais catalães, regressa a Portugal. Desde 2005, integra a equipa permanente da d’Orfeu Associação Cultural com funções de Direcção Técnica, Técnico de Som, Sonoplasta e Produtor. Entre muitos outros registos, foi responsável pela captação, edição, mistura e co-responsável pela masterização dos CD “Toques do Caramulo é ao Vivo” (2007) e “Retoques” (2011), editados pela d’Eurídice, braço editorial da d’Orfeu. A formação é uma das áreas à qual se dedica há vários anos.

António Costa
Designer de luz, formou-se na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE) em design de luz e som para espectáculos. Trabalhou como freelancer em vários teatros do Porto (São João, Rivoli, Campo Alegre), colaborou no “Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura”. Em 2004 ingressa no Teatro Aveirense onde é, actualmente, o responsável pela área de Luz. Paralelamente, vem fazendo criações/desenhos de luz para produções independentes de ópera, dança, teatro e musicais, nomeadamente colaborando com o Estúdio de Ópera do Centro, a Escola de Bailado de Aveiro, a Efémero Companhia de Teatro e a Academia Musical Vilar do Paraíso, entre outras.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Águeda fez O Gesto Orelhudo número dez!


O festival encerrou com uma estreia da casa, “Mal-Empregados” © foto André Brandão

FOTOS OFICIAIS DO FESTIVAL
http://picasaweb.google.com/109799824215982368338

CRÓNICAS DIÁRIAS por Fausto Ferreira
http://dorfeu.blogspot.com

VÍDEOS DIÁRIOS
http://www.youtube.com/user/dOrfeuAC

Caiu o pano sobre a 10º edição do Festival “O Gesto Orelhudo”. Águeda guardará na memória, durante mais um ano, os momentos proporcionados por um festival que ainda consegue surpreender o público. A antiga Junta dos Vinhos encheu de musicomédia e a cidade voltou, durante a última semana, a sentir-se cultural.

A primeira noite, no dia 4, trouxe Bernard Massuir de volta, abertura sublime. Seguie-se a estreia em Portugal do Concerto em Ri Maior da brasileira Cia dos Palhaços. No feriado, os parceiros do Trigo Limpo teatro ACERT mostraram as ironias da Côr da Língua e, depois, o regresso de Oskar & Strudel, musicomédia pura. Outra grande noite orelhuda foi a de quinta-feira, com os aclamados polacos The MozART Group, espaço apinhado para a noite terminar à velocidade do som da Fanfarra Kaustika. Na sexta, os hilariantes Barbieri italianos com o melhor da musicomédia visual, seguindo-se os multiculturais Gadjo em palco, para o fim de noite em festa. Por fim, no sábado os Artelier desafiaram memórias colectivas nas cubas exteriores e, já na sala, a estreia absoluta da nova criação d’Orfeu, “Mal-empregados”.

O 10º Festival “O Gesto Orelhudo” foi uma iniciativa d’Orfeu em co-produção com a Câmara Municipal de Águeda, com o apoio da Direcção-Geral das Artes, além de inúmeras parcerias e apoios locais, regionais, nacionais e internacionais. A próxima edição do festival, a décima primeira, terá lugar em Outubro de 2012.

domingo, 9 de outubro de 2011

O FOGO apagou-se



Fausto Ferreira
9 Outubro

Numa altura de tantos incêndios prejudiciais, dá pena ver um FOGO tão bom extinguir-se. A última noite do Festival foi talvez a mais surpreendente, com propostas muito diferentes entre si. Para começar, a performance-instalação dos Artelier no espaço exterior da Antiga Junta dos Vinhos a aproveitar bem o zeitgeist do festival. As cubas que antigamente continham vinho estavam agora bem decoradas alusivamente a temas como sopas de cavalo cansado, bolacha Maria, cuba livre (que estava vazia), pisa da uva, violência doméstica e P… e vinho verde.

Artelier? © Mário Abreu

A própria performance esteve enquadrada com o local e com o festival. Por um lado, vários trechos de vídeo projectados relacionavam-se com o vinho quer seja já no copo (com imagens de um restaurante vizinho) quer seja na fase de ser pisado. Por outro, numa das cenas mais intensa e visceral, uma das actrizes tomou banho de vinho com o vinho a descer por tubos que partiam da entrada da cuba no prenúncio de uma reflexão sobre certos degredos que estão presentes na sociedade actual. A relação com o festival era óbvia nos vídeos que incluíam algumas personagens bem conhecidas do festival e de Águeda. Outra imagem de marca de Águeda que esteve presente foi uma mota Famel, desta vez não na sua versão projectada, mas sim real. Já em vídeo, o público pôde apreciar um vídeo engraçado sobre tractores, uma máquina usada na vindima muitas vezes, acompanhado de um texto que romantizava tanto os tractores ao ponto de os tornar bonitos. Talvez pelo frio do ar livre, talvez pelo facto deste espectáculo não ser propriamente ortodoxo, talvez pela curiosidade e ansiedade em ver uma estreia da casa, algum público deslocou-se para o interior do edifício, esperando impaciente o início do segundo espectáculo da noite.

Mal-Empregados © Luís Neves

Mal-empregados era o título deste espectáculo made in d’Orfeu com Ricardo Falcão e Luís Fernandes, o coordenador do festival, em palco. Os dois entraram muito sérios e bem caracterizados de fato preto e t-shirts com cores vistosas (amarelo e verde) a combinar impecavelmente com as sapatilhas. A primeira surpresa desta actuação foi o Hino da Alegria tocado num instrumento desconhecido da maior parte do público: o stylophone. É como se fosse um telemóvel ou um tablet touchpad mas a sensibilidade ao toque do ecrã não serve para ligar a alguém ou escrever algo mas sim para produzir notas musicais. Com um pequeno pormenor (ou pormaior): o som produzido tem distorção e faz rir. E muito. O stylophone foi usado mais vezes ao longo do espectáculo para tocar a “Abelha Maia” ou “Besame mucho” numa das cenas mais divertidas da noite com Ricardo Falcão a dançar com uma escova de lavar o chão beijando-a intensamente.

Mal-Empregados © Mário Abreu

Antes, houve tempo para ouvir as respostas de uma criança à pergunta o que queres ser quando fores grande? serem transformadas em desejos. Desde a voz de piloto de avião à voz dos carinhos de choque passando pela do GPS, das informações de trânsito, do Multibanco, da estação de comboios ou do hipervisor de supermercados, tudo respostas que a criança deu, foram imitadas pelos dois actores com enorme mestria soltando grandes gargalhadas no público que reconhecia naquelas vozes situações muito familiares. Outra das cenas mais divertidas deu-se quando de uma versão alterada do “Jardim da Celeste” passou-se para uma música que poderia passar numa qualquer danceteria. Com um bom beatbox gravado no momento, luzes adequadas e danças a rigor no meio do público foi fácil animar os presentes. Que mais tarde cantaram também em conjunto divididos em dois grupos porém: os que cantavam com eu e com.. migo segundo o Luís. Mas o melhor estava reservado para o final. Depois de terem gravado uma melodia bonita que serviu de base, começaram a cantar em cânone José Cid e Carlos Paião. Se já estas duas músicas resultavam bem com a melodia acabada de gravar, a terceira assentou que nem uma luva. O que vale a pena realçar é que poucos artistas conseguem fazer uma versão melhor que o original. Aconteceu por exemplo com a versão do Jeff Buckley de “Hallelujah” (original Leonard Cohen). Ou com a versão de Maria João e Mário Laginha de “Corazón Partío” (de Alejandro Sanz). E aconteceu ontem à noite com a versão dos Mal-empregados do “Papel Principal” de Adelaide Ferreira. Sim, acabaram com Adelaide Ferreira. E não foi só cómico, foi também bonito. Tal como quando deixaram a última canção em loop e dançaram um com a escova e outro com o balde de lavar o chão até juntarem a escova e o balde que dizia "Mal-empregados". Não sei a que se referiam, mas certamente os euros do bilhete não o foram.

Quempallou © Luís Neves

Para acabar o Festival e dentro do programa do Outonalidades, um circuito de música ao vivo por bares de todo o país (e Galiza), os Quempallou animaram a sala. Com um conjunto de instrumentos que incluía o acordeão, gaita de foles, tamboril, pandeireta, bombo, requinta, este grupo galego fazia lembrar os sons do seu vizinho Minho. Para quem vinha extinguir o FOGO (só o deste ano), chegaram cheios de energia.

sábado, 8 de outubro de 2011

O multiculturalismo em palco



Fausto Ferreira
8 Outubro

A noite mais multicultural do festival teve presentes artistas oriundos de Itália, Espanha, França, Reino Unido, Estados Unidos e Argentina.
Os italianos do Teatro Necessario foram barbieri (barbeiros) por uma noite. Segundo os próprios, fazia falta em Águeda uma barbearia, já que estava imenso público na sala. O cenário estava muito bem caracterizado a relembrar uma velha barbearia e tudo o que estava escrito estava em bom português. A festa de inauguração desta barbearia correu muito bem, com os três musicómicos a presentearem o público não só com um bom espectáculo, mas ainda com cortes de cabelo grátis. O regresso destes italianos foi marcado por uma boa mistura entre música e comédia, com extravagantes intervenções musicais em conjunto. Como por exemplo, quando se encaixaram os três de uma forma em que era impossível perceber que mãos tocavam o contrabaixo ou o clarinete. Ou quando um tocava contrabaixo às cavalitas do outro. Ou quando um dos artistas tocava clarinete ao mesmo tempo que tinha o seu cabelo cortado e ajustava o ritmo do clarinete de acordo com a escova que lhe passavam no cabelo.

Teatro Necessario © Mário Abreu

Depois de descerem do palco tocando clarinete, trombone e trompete na primeira interacção com o público, anunciam a abertura da barbearia com um sugestivo anúncio "Barba e cabelo 15€". Desceram o preço para 10€ e olharam insistentemente para o público, mas ninguém se atrevia. Até que ao anúncio "Primeiro cliente grátis", logo um voluntário surgiu do público. E outro. Mas ao segundo, apareceu o cartaz "O segundo paga" antes que surgissem mais e mais clientes ávidos de um corte de cabelo. O primeiro cliente foi despachado rapidamente já que tinham um segundo que iria pagar e portanto tinha de ser melhor tratado. Além de uma coroa havaiana, teve direito a um rico manto (em vez de um normal lençol) e a um corte nas alturas. Sim, leram bem, um corte nas alturas. Isto porque a cadeira do cliente foi subida tanto que o corte teve de ser executado com um dos barbeiros em pé em cima dos ombros do outro. Podem imaginar a comicidade da situação. Para acabar em beleza, agradeceram e saíram do palco deixando o membro do público a mais de 2m de altura. Por duas vezes fizeram o mesmo, olhando com um misto de vergonha e condescendência, pois não conseguiam descer a cadeira. Por fim, tiraram-no do modo mais difícil: pelos ombros. Afinal, é muito mais cómico assim que simplesmente descer a cadeira. E comédia foi o que não foi faltou neste espectáculo.

Gadjo © André Brandão

Os Gadjo oriundos de Barcelona, mas com raízes na série de países supracitada, animaram a segunda parte da noite. Muito bem dispostos e divertidos, e demonstrando desde o início o quão bons músicos eram, entraram logo a abrir. E isso foi apenas um aperitivo do que seria o resto da noite. Cheios de energia, os ritmos ska-jazz preencheram a maior parte da actuação. Mas houve também tempo para uma valsinha convenientemente dançada pela acordeonista. E para grandes solos de todos os instrumentos desde o trombone à bateria, passando pelo saxofone tenor e pela flauta. E para as participações especiais dos três italianos do Teatro Necessario que se juntaram à secção de sopros. A comédia não ficou esquecida e o momento mais cómico deste concerto foi quando sete dos músicos se sentaram ao colo uns dos outros continuando a tocar tranquilamente. No encore e com o público já todo de pé, aconteceu o que os Gadjo tinham pedido anteriormente: toda a gente dançou ao ritmo efusivo desta miscelânea de influências.
Os Bang Bang Bangers animaram o resto da noite com um DJ set apropriado para uma Friday night com ritmos electrificantes.

Bang Bang Bangers © Léa López

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A noite da Música



Fausto Ferreira
7 Outubro

A terceira noite de festival foi a mais musical até agora, mas não faltaram momentos cómicos principalmente com o Mozart Group. O nome poderia sugerir um concerto sério e enfadonho, mas desenganem-se os mais cépticos. Não há adjectivos que cheguem para qualificar o concerto deste grupo polaco. Excelente. Incrível. Inacreditável. Fantástico. Fenomenal. Hilariante. São alguns que podemos usar, mas o mais acertado será indescritível. Por isso, perdoem-me os leitores se não conseguir fazer jus ao que se passou na noite passada.
Começando com as Quatro Estações de Vivaldi de um modo sério, logo um dos músicos começa a abandalhar usando um chapéu de cowboy e dando um lamiré do que seria o resto da noite. Na mesma senda, e à segunda Estação que tocaram, outro músico usa um chapéu de rabino e umas tranças falsas para ajudar à comédia.

MozART Group © André Brandão

A música dita erudita foi uma constante e além de Mozart e Vivaldi, houve tempo e espaço para Tchaikovsky, Chopin, Haydn, Beethoven entre outros. Quando tocaram A morte do Cisne, olharam para o céu à procura do cisne enquanto se ouvia o grasnar de um cisne. Continuando no mundo animal, imitaram o roncar de um porco com o violoncelo antes de apresentarem uma das várias versões de Für Elise, cada qual mais divertida e estranha que a outra. A primeira foi tocada com uma das mãos no bolso e a segunda, bem, vou deixar para o fim pois foi o momento apoteótico final. Tão depressa tocavam Beethoven como passavam para La Bamba, dançando alusivamente obtendo o maior aplauso da noite (até ao momento). Ou para o tema do filme Titanic, com uma coreografia muito bem sincronizada. Durante este tema, os músicos moviam-se simulando o movimento de uma onda. Com a mesma velocidade voltavam a Vivaldi simulando uma corrida de carros que terminou com We are the Champions. Mas a música erudita não fugia, e o público pôde assistir ao Concerto de Aranjuez de Rodrigo com o quarteto a tocar os seus violinos, viola e violoncelo como se guitarras fossem. Aproveitando o momento guitarra, Stairway to Heaven dos Led Zeppelin foi o interlúdio para uma música mais perto do heavy metal que levou a um pedido de desculpas em bom português: “Hoje troquei os versos”.
Na passagem para a música britânica, trocaram de posições já que os britânicos conduzem ao contrário. O All you need is love passou a All you need is Bond com um dos músicos a vestir-se a rigor e a anunciar My name is… Haydn, Joseph Haydn. Seguindo os preceitos ingleses, interromperam o I can’t get no satisfaction porque eram 17h ou seja tea time. Num crescendo de intensidade e comicidade, para o fim estavam reservados ABBA, Bizet, Elvis Presley, Michael Jackson e Beethoven de novo. Com os ABBA, vimos os dois violinistas a atravessarem o palco com calçado luminoso e com rodas. A Carmen de Bizet foi tocada em versão quarteto de cordas mais ping pong. Um dos violinistas usava a mão livre para acompanhar a música de forma síncrona com uma raquete e uma bola de ténis de mesa. Elvis Presley foi reinventado com o barulho de um balão a esvaziar. Beat it de Michael Jackson teve a letra alterada para um elogio a Mozart mas o violinista dançarino esteve ao nível de Jackson. E para acabar, o momento rock da noite. Violino eléctrico com distorção, músico a perguntar ao público “Are you ready?” antes de dizer “Elisa, é para ti” e começar a tocar uma versão mais pesada de Für Elise, com as luzes principais a serem apagadas, luzes discoteca a acompanhar, estantes a voarem, etc.

MozART Group © Mário Abreu

Quando voltaram para o encore, todos os músicos vinham engessados denotando os efeitos da última música demolidora. Mesmo assim, tocaram. O violoncelista com os dois braços engessados, abanava o violoncelo com o joelho. Outro dos músicos que tinha dois braços engessados segurava os arcos enquanto os violinistas que tinham apenas um braço inutilizado usavam o braço livre para fazer passar o violino no arco que o primeiro segurava. A música escolhida para este primeiro encore não podia estar mais de acordo com a situação: Always look on the bright side of life. Ao segundo encore, escolhem um membro do público para cantar com eles O sole mio. E ao terceiro, tornam-se músicos sérios e demonstram todo o seu virtuosismo voltando a Vivaldi. A perfeição dos executantes combina com a perfeição de todo o espectáculo. Uma excelente sincronização e execução exímia de tudo o que foi meticulosamente preparado proporcionaram um espectáculo que vai ficar nos anais do FOGO e na memória de todos os espectadores que esgotaram a sala.

Fanfarra Kaustika © Mário Abreu

Num registo completamente diferente, o punk filarmónico da Fanfarra Kaustica animou as hostes durante o resto da noite. Um grupo constituído por músicos do concelho, esta foi a estreia da vertente local neste FOGO. Abriram em força entrando pela zona do bar e tocando uma música bastante conhecida (Moliendo Café) logo no início. Os 12 membros do grupo estavam fardados a rigor, todos vestidos de preto e com o palco engalanado adequadamente com o símbolo da Fanfarra exposto de alto a baixo. Com 9 sopros e 3 artistas na percussão, esta “small big band” cheia de energia contagiou os presentes principalmente aqueles que estavam de pé a dançar. Muitas cadeiras foram retiradas para dar mais espaço à animação e era difícil destrinçar quem tinha mais energia: se público se músicos. Pelo meio, os músicos confessaram que o seu filme preferido era “Este país não é para velhos” para logo a seguir fazerem um agradecimento especial à juventude sadia de 60 anos que resistia até àquela. A boa disposição manteve-se até ao final e quando chegou à apresentação dos músicos, os músicos cumprimentaram-se entre eles como se estivessem a ser apresentados. Perto do final, a Fanfarra tocou o inconfundível Manu Chao mesmo antes de acabar a tocar de novo no bar.
O d’Orfmind Sound System acabou a noite com duas novidades: uma grafonola que não serviu só de decoração e um theremin home-made que fez as delícias dos presentes.

d'Orfmind © André Brandão

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O rugido dos tambores



Fausto Ferreira
6 Outubro 2011

Abriu a segunda noite do Festival da melhor forma.
Os músicos começaram a tocar tambores e caixas fora do edifício, entrando na sala pela entrada do público surpreendido e ansioso por ver o que ouvia. O ritmo dos tambores não abrandou e no palco os artistas aplicaram-se nos seus instrumentos originais com o mesmo vigor empregado anteriormente nos tambores. Logo a seguir, o diseur José Rui Martins lê um texto cómico sobre um bode que chega a trabalhador do Ministério das Finanças. Texto esse bastante actual com referências à troika, a Isaltino Morais e a Alberto João Jardim, entre outros. Este espectáculo tem o nome de “A Côr da Língua”, mas claramente um texto assim é de “Soltar a Língua”, um espectáculo anterior do Trigo Limpo Teatro ACERT que também passou por Águeda, tal como tantas outras criações desta companhia.

"A Côr da Língua" ACERT Trigo Limpo © Mário Abreu

Os momentos mais musicais alternavam-se com textos lidos (alguns a solo), tendo havido espaço para a flautista mostrar que cantava tão bem como tocava flauta, entre um texto divertido sobre pobres e ricos e outro engraçado sobre um padre que tinha metido água na vodka e não vodka na água como lhe tinha aconselhado o arcebispo. Pelo meio, uma canção cheia de swing com bons solos de percussão e contrabaixo (isto quando os alegres coros não cantavam). E um texto sobre bois e os seus sons derivados como o boi que passa a noite na “boiâte” a ser um “boiémio” e por isso quando chega a casa a vaca faz boicote. Perto do fim, José Rui Martins diz que é bom estar em casa (a lembrar toda a amizade entre associações) e enaltece esta “encubadora de projectos” (pelas cubas de vinho). Logo a seguir, faz uma interpretação muito viva de um discurso de um presidente de câmara para depois terminarem musicalmente ao som das palmas do público. Mas houve ainda tempo para tocarem uma música bonita e calma e despedirem-se com um beijo enviado ao público. E para aplausos de pé. E para mais música ainda. Mas como dizia o diseur brincando, “o nosso tempo acabou” e era tempo de preparar o palco para o espectáculo seguinte.

Oskar & Strudel © Luís Neves

Oskar & Strudel, outro regresso ao festival e outro regresso em grande. Strudel, o baixinho que estava sempre com um sorriso maroto e Oskar o palhaço alto que fica zangado com as partidas que Strudel faz. Desde início, têm uma boa interacção com o público, pedindo os bilhetes para picar e provocando as primeiras risadas. Logo a seguir, uma cena hilariante, de rir até às lágrimas com Strudel a tocar com a língua no cabo eléctrico da guitarra e com o seu ritual preparativo para tocar guitarra. Além de uns truques com o chapéu, a forma meticulosa como mediu o arregaçar das mangas do casaco com uma fita métrica fez impacientar Oskar e ao mesmo tempo divertir imenso o público. Fita métrica que usou mais tarde da mesma forma ridícula para medir outras distâncias. Alguns truques de malabarismo com três, quatro, cinco bolas e mais difícil ainda, segundo Oskar, com uma! Um número de magia com uma toalha que ao abacadabra do público se transforma em tetas de vaca com Oskar a ser ordenhado por Strudel. Uma cena com diablo em que Oskar dança com movimentos sexy antes de passar a usar dois diablos. Ou tentar já que Strudel em vez de o acompanhar devidamente, fez um excelente solo de bateria. Finalmente, e para acabar em beleza, algo que exige um elevado grau de sincronismo e que fez as delícias do público: a dupla a tocar ukulélé e a fazer malabarismo ao mesmo tempo, isto é um com cada mão a fazer as duas coisas! Sem dúvida, uma boa maneira de terminar a noite.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O FOGO já arde



Fausto Ferreira
5 Outubro 2011

Começou na noite passada a 10ª edição do Festival O Gesto Orelhudo, marcada por uma série de estreias, a começar pelo espaço. A Antiga Junta dos Vinhos, junto ao Rio Águeda numa zona requalificada, foi o local escolhido para acolher esta edição do festival que começou em 1999. Espaço este que estava muito bem decorado com o material “da casa” (barris, máquinas agrícolas, etc) e com uma excelente iluminação, principalmente na zona do bar/DJ. A 1ª noite foi também de estreias ao nível da programação com a Companhia dos Palhaços a dar um Concerto em Ri Maior. Mas antes um regresso aclamado de Bernard Massuir, esse mago da voz que passa pelo Bobby McFerrin europeu.

Bernard Massuir © Léa López

Pela 4ª vez em Águeda, trouxe tantos fãs e estreantes que as cadeiras foram poucas e a sala encheu facilmente com muita gente a ficar em pé. Começou por cumprimentar o público em português com um "boa noite", mas essas não foram as únicas palavras em português que sabia pronunciar. À 2ª música, já o público estava rendido a bater palmas e a interagir com este artista, que além de um bom músico é um grande comunicador. "Obrigadinho" era a resposta às palmas e eis que dá uma explicação longa em bom português sobre a música seguinte. Começa então a fazer algo que repetiu durante o espectáculo com sucesso: canta o motivo base da música inicialmente, gravando-o e usando essa gravação para improvisar por cima. Para complicar ainda mais, gravou também a 2ª improvisação e fez uma terceira voz por cima das duas gravadas anteriormente. À 4ª canção, teve de usar o francês e aconselhar o público a pedir ao vizinho a tradução para explicar o uso do acordeão-baixo nesta música dedicada a Erik Satie. Depois, veio Un Peu de Tout, o êxito da noite repetido no encore. Provavelmente, pelo refrão orelhudo que o público entoava e acompanhava com palmas. Houve ainda espaço para músicas acompanhadas com uma espécie de cavaquinho, uma delas dedicada às vítimas do furacão Katrina. Ou para uma fabulosa interpretação de Carmen de Bizet, com a ajuda do público nos graves. E para He always smilled de Chet Baker, uma boa definição deste músico que nos contagia facilmente pela sua boa disposição. Para a despedida, Valse au lit, uma canção de embalar. Mas o público queria mais e além da repetição de Un Peu de Tout, o final veio com o público em êxtase a acompanhar com palmas toda a última música. Seguramente, um grande início de festival.

Companhia dos Palhaços © André Brandão

Depois do intervalo, algo mais divertido e menos virtuoso musicalmente. A Companhia dos Palhaços vinda do sul do Brasil entrou em palco. Aliás, entrou apenas um dos palhaços e pediu a ajuda do público para chamar Wilson, o palhaço maestro russo que não falava obviamente a nossa língua. Sarrafo, o primeiro palhaço fazia a tradução do maestro Wilson que para palhaço sorria pouco, o que nos fazia rir ainda mais. Talvez por isso tenha sido engraçado ver palhaços a tocarem uma marcha fúnebre até interromperem e começarem então com “Oh! Susanna” música bem conhecida a lembrar o faroeste. Mas para isto precisaram da ajuda do público, pois o maestro tocava guitarra e harmónica (também conhecida por gaita de beiços) e precisava de alguém “para lhe segurar na gaita” [sic]. Depois de uma apurada e divertida escolha e do membro do público ter desempenhado a sua função com louvor, a Companhia dedicou-lhe um momento solene com o hino nacional a ser tocado. O problema é que era o do Brasil e como tal o designado ajudante não o sabia cantar. Ainda dedicado a este forçado voluntário foi uma balada com o nome de The Biggest Tonight. Na cena seguinte, um pequenino acordeão supostamente usado pelo avô do maestro no naufrágio do Titanic foi usado para recriar a cena de Jack e Rose. Com mais uma ajuda do público, com alguns membros da plateia a fazerem de icebergue e outro membro do público no palco a empurrar Sarrafo para simular o vento. Desta vez, o ajudante sofreu mais, pois teve de cantar a solo e dançar com Sarrafo. Por cima, mereceu a dedicatória do Bolero de Ravel. Houve ainda tempo para algo que não é novidade, mas que faz sempre rir. Um abraço entre palhaços com um a tocar o acordeão que o outro tem atrás das costas. E para um flamenco acompanhado a rigor por Sarrafo, vestido com uma saia vermelha e tocando castanholas. O vestido manteve-se mesmo para as cenas de malabarismo. Quando passamos de 3 para 4 bolas de malabarismo, Sarrafo emociona-se e pede a Wilson uma música adequada. Wilson toca More than Words chorando baba e ranho e Sarrafo não consegue concentrar-se no malabarismo, mas o público solta largas gargalhadas. O final foi apoteótico com o público aos saltos e a uivar tal como Sarrafo tinha pedido. Sem dúvida, uma boa maneira de acabar a noite.
Para o after-hours, o DJ Johny Red animou as hostes e nem o frio ribeirinho afastou os presentes durante largas horas.

DJ Johnny Red © André Brandão