quarta-feira, 26 de março de 2003

Uma Noite no Paraíso

Em cima da comemoração do Dia Mundial do Teatro, a d'Orfeu sobe ao palco no final do mês com uma produção da casa: o "Sorriso Salgado" vai apresentar "Uma Noite no Paraíso" no CEFAS a 29 de Março. O "Sorriso Salgado" vem desenvolvendo diversas acções de animação sócio-cultural junto da comunidade e agora defende criação própria perante o público. Será Teatro?

O "Sorriso Salgado" nasceu no Outono de 2002, de um parto de sorrisos e da vontade de "contar histórias". Por entre conversas soltas nasceu a ideia e dela os primeiros sorrisos. DO grupo fazem parte: Augusta Henriques, Cristina Gameiro, Isabel Henriques, Susana Madeira, Adrien Boudst e Roberto Sileo (estes dois últimos, voluntários SVE na d'Orfeu). A formação teatral e musical dos voluntários aliada ao desejo, de todos, de contar histórias e espalhar sorrisos fez com que se unissem experiências e talentos e se apostasse na criação.
O primeiro trabalho "Uma noite no Paraíso" foi estreado em Dezembro de 2002 no bard'O, onde voltou em Janeiro deste ano. Trata-se de um "check up" hilariante, antes de uma viagem para o paraíso, de uma jovem e de um anjo que se encontram numa noite fria. Esta peça foi também apresentada já durante o mês de Fevereiro na Santa Casa da Misericórdia de Águeda, nos Pioneiros e na Casa do Povo de Valongo do Vouga. A próxima apresentação está prevista para o próximo dia 29 de Março no CEFAS.
Paralelamente, o "Sorriso Salgado" assegurou no mês de Fevereiro a "Hora do Conto", na Biblioteca Municipal, todas as quartas-feiras de manhã. Durante uma hora o público dos 3 aos 6 anos de idade, pôde assistir à peça infantil "No Reino da Papelândia". O grupo está a preparar uma nova peça infantil para apresentar no mesmo espaço durante o mês de Março. O "Sorriso Salgado" tem também promovido, desde Dezembro de 2002, as "Noites Brancas", noites de poesia. Recorrendo à criação dos mais diversos ambientes e utilizando diferentes suportes, são noites em que os poemas ganham voz, forma e corpo. Estes momentos têm lugar no bard'O duas vezes por mês. O grupo aposta de igual forma nas animações de rua e vai participar já em Abril num encontro internacional em Aljustrel, no Alentejo.
Empenho no projecto que abraçou, o "Sorriso Salgado" não pretende ficar por aqui e têm vindo a trabalhar em duas novas criações teatrais, cuja apresentação está prevista ainda para o primeiro semestre de 2003.

O que é um "Sorriso Salgado"?

Rir. Chorar de Rir. Ir às lágrimas. Um "Sorriso Salgado" é o que deixamos escapar perante qualquer coisa que nos toque, surpreenda, encante ou desencante. Pode ser um sorriso rasgado ou disfarçado.Pode ser uma lágrima escondida no canto do olho que aparece sem querer. É a emoção. A comoção. A alegria. A surpresa. O sentimento. A comédia e a tragédia. As duas coisas no mesmo tempo. No mesmo espaço. No mesmo rosto.um "Sorriso Salgado" é o que todos temos, guardado, escondido, pronto a escapar.

A receita


Junte a um "Sorriso" italiano com formação teatral, um francês com formação musical. Acrescente-lhes à vontade e criatividade, mexa bem e coloque um lume brando. Misture a desenvoltura e o empenho do "Sorrisos" portugueses. Mexa novamente. Adicione palavras e vontade de contar histórias, junte a cor e a forma e vá arquitectando mais um sorriso. Tempere com uma boa gargalhada e os condimentos q.b. e levante o lume. Sinta o cheiro, aprecie a textura do sonho e sorria. Coloque tudo num palco e enfeite com imaginação. Acrescente ao seu livro de receitas para sorrir. E junte o seu sorriso a 29 de Março no CEFAS.

quinta-feira, 6 de março de 2003

Curtas d’Orfeu de Março 2003

Março Marçagão... teatro em acção!
Depois de “O Labirinto dos Sonhos” no palco de Recardães ter aberto este mês, a d’Orfeu sobe ao palco no final do mês com uma produção da casa: o colectivo “Sorriso Salgado” vai apresentar “Uma Noite no Paraíso” no CEFAS no último sábado de Março, o que acontecerá em cima da comemoração do Dia Mundial do Teatro. O “Sorriso Salgado” vem desenvolvendo diversas acções junto da comunidade, como por exemplo as “Histórias com Sorrisos” (às quartas na Biblioteca) e outras animações pelo concelho, e agora defende criação própria perante o público.

Teatro Voluntário para o Ambiente

Dez voluntários estrangeiros que se encontram em associações em Portugal, tal como o Adrien e o Roberto na d’Orfeu, vão encontrar-se em Águeda entre os dias 13 e 16 de Março. O objectivo é preparar uma peça de teatro sobre a educação ambiental para ser apresentada no Festival da Água e da Floresta em Mourão (Alentejo) no dia 22. É uma colaboração da d'Orfeu com o Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, de Évora. Depois de aqui termos acolhido um Encontro Nacional de Voluntários em Julho de 2002, esta é a primeira vez que existe uma iniciativa promovida conjuntamente entre voluntários SVE de diferentes associações.

Vem aí cooperação com América Latina

A d’Orfeu estará presente no Eurolat, em Las Palmas (Ilhas Canárias), de 20 a 25 de Março, um Seminário de Formação de Parcerias destinados a organizações da Europa e de toda a América Latina. Luís Fernandes trabalhará directamente com organizações empenhadas em integrar na rede de parceiros do Programa Juventude com vista a intercâmbios internacionais de jovens entre a América Latina e a Europa e, por outro lado, Roberto Sileo, promoverá a d’Orfeu com vista a novos projectos de voluntariado que possam envolver jovens latino-americanos na d’Orfeu.

Andamento para a paz
O Andamento, com a habitual colaboração da Escola Marques de Castilho, vai apresentar-se a 14 de Março num Seminário promovido pela Associação Nacional de Professores, em Ovar, mostrando o exemplar e continuado trabalho de investimento artístico no meio escolar que o colectivo vem desenvolvendo. A dinâmica de criação do Andamento busca a actualidade dos temas e, em Ovar, num tempo mundial de incertezas, a múltipla personagem usa as palavras que o mundo teimosamente rejeita.

quarta-feira, 5 de março de 2003

O Labirinto dos Sonhos

O Senhor dos Sonhos é o feiticeiro que se esquece do tempo e se entretém a juntar asas, medos, paixões, adivinhações, fortunas, rostos, bichos, aventuras, sótãos, lhes mistura um pouco de hoje, amanhã e ontem, lhes junta uma poção imensa de estranheza e nos embrulha a noite num labirinto, que se esvai na madrugada.

É deste mundo onírico que nos fala a peça O Labirinto dos Sonhos do Trigo Limpo teatro Acert, que a d'Orfeu e o Centro Comunitário de Recardães trouxeram a Águeda, nos primeiros dias de Março.

Já sabia que me ia perder, que me me ia esquecer do fio lógico que me orienta os dias, mas corri atrás das campainhas que soam no labirinto e lá fui eu, numa aventura, ao reino das maravilhas. Fiz-me Ventura, o menino que sonhava, criei asas, voei por cima de todas as cabeças, conheci um mosquito que não gostava de sangue e se escondia nos buracos da madeira, falei com o bicho Bem e o bicho Mal, cantei e dancei rap com outros bichos, vasculhei um sótão cheio de guarda-chuvas, de livros, de arcas e gaiolas, encontrei o monstro Rapónia que tinha olhos brancos num mar de escuro e me abanava com música de susto e discos de fogo, fui atrás de uma luzinha, encontrei os cientistas e astronautas Alho e Bogalho, visitei o astro Cebolóide, meti-me na sincronia musical de outros seres, andei de sonho em sonho, tão de perto com a minha infância, revisitada agora com teatro de marionetes, com desenho animado, com luz, com sombra, com actores-narradores, filhos dilectos de Hipnos, o rei dos sonhos e acordei, num público cheio de princesas, palhaços, bruxinhas e pais.

E foi de imaginação, técnica e talento que o Trigo Limpo teatro Acert construiu, a partir de um conto infantil, um espectáculo que se situa entre as fronteiras do teatro, do desenho animado, do filme de ficção científica, do teatro de marionetes, contado com vozes, música e imagens de outro mundo, com todos os ingredientes que moram no imaginário das crianças e dos adultos de hoje.

E foi assim que vivemos, crianças, a aventura do sonho, numa sala em Recardães, revisitando lugares a que a noite nos habitua. Se ao menos pudéssemos comandar o sonho, como faz Ventura!

E se a vida é mesmo um sonho, como afirma Caldéron de la Barca, ali, no palco de Recardães, despiu-se de pesadelo e mascarou-se de arco-íris.

Odete Ferreira