sábado, 2 de dezembro de 2000

Andamento apresenta-se nas casas-mãe

O colectivo "Andamento" vem apresentando novos trabalhos nas últimas aparições em público. A 28 de Novembro, a convite da Cerciag, por ocasião da passagem da "Chama da Amizade" por Águeda e no dia 1 de Dezembro na inauguração da exposição de Teresa Cortez promovida pela ANATA na Fundação Dionísio Pinheiro, os jovens declamadores e músicos da d'Orfeu e da Castilho deram voz e corpo a trabalhos temáticos concebidos para aquelas situações, bem como o repertório entretanto já estreado.
O "Andamento" - que incide particularmente na construção poética, buscando a sua fusão com rudimentos musicais - tem próximas apresentações previstas no bard'O (Espaço d'Orfeu), a 14 de Dezembro numa das noites do OuTonalidades e a 19 deste mesmo mês, no sarau natalício da Escola Secundária Marques de Castilho.

Somos nós, querida Europa!

Parte a d'Orfeu por estes dias, Europa fora, ao encontro de qualificação ao mais alto nível em três cidades europeias. A operação, cuja oportunidade é irrepetível e por isso apadrinhada por organismos do poder público, redundará em inegáveis mais-valias técnicas e artísticas num quadro de intervenção pública da d'Orfeu nos domínios sócio-culturais.

Bruxelas (Bélgica), 5 a 7 de Dezembro de 2000
Jornadas Técnicas do Espectáculo e do Acontecimento Cultural
Journées Techniques du Spectacle et de l'Évenement
Financiador: Câmara Municipal de Águeda

Montpellier (França), 9 a 14 de Dezembro de 2000
Estágio Europeu de Formação para Intercâmbios de Jovens
Stage Europeen de Formation aux Échanges de Jeunes
Financiador: Comissão Europeia "Programa Juventude"/Instituto Português da Juventude

Lille (França), 14 a 17 de Dezembro de 2000
Encontros Jovens Criadores Europeus e Realidades Sociais
Rencontres de Jeunes Créateurs Européens et Realités Sociales
Financiador: Ministério da Cultura - Delegação Regional da Cultura do Centro

A primeira acção, de carácter essencialmente técnico, tratará questões como o espaço cénico, o equipamento e as normas europeias no domínio dos edifícios de espectáculos; a segunda, promoverá sinergias entre organizações juvenis e técnicos de vários países com vista ao desenvolvimento de projectos de intercâmbio multilaterais; e a terceira, de vocação sócio-artística, pretende promover a profissionalização e o alargamento dos projectos artísticos ligados ao tratamento de assimetrias sociais actuais.
A pertinência que para nós assumem estas frentes - diversas e complementares -, num quadro simultaneamente internacional, nacional, regional e local, valorizando as competências da d'Orfeu na sua dimensão mais pública e interventiva, empurram-nos para a responsabilidade deste desafio. Caberá ao coordenador Luís Fernandes avidamente colher os resultados desta imensa formação e, uma vez em Águeda, continuar a promover a multiplicidade deste projecto associativo que se chama d'Orfeu.

segunda-feira, 23 de outubro de 2000

OuTonalidades 2000 - 4ª Edição

Aí está a 4ª edição do OuTonalidades! O circuito de música ao vivo por bares do concelho de Águeda vai arrancar em força. Uma programação vastíssima vai fazer de Águeda, mais uma vez, destino cultural privilegiado para todos os públicos durante dois meses. Sempre pela mão da d'Orfeu, o OuTonalidades tem início marcado para 3 de Novembro e só termina no último dia do Outono.

Até 20 de Dezembro, acontecerão 38 animações, rotativamente pelos treze bares do concelho de Águeda que aderiram ao projecto. Com o evento pretendem-se cativar os públicos para propostas inovadoras em termos musicais, provocando uma migração que faça deste circuito inédito, ponto de referência regional e nacional.

O entusiasmo da adesão de todos os agentes envolvidos - grupos e bares - no OuTonalidades, vai repetir e multiplicar a grande festa resultante das anteriores edições, que se sucedem anualmente desde 1997. Cabe, aliás aos bares, o grande mérito desta imensa programação em Águeda, sendo que a sua participação no evento vem dependendo de uma forte vontade também cultural. São os ares de uma postura nova e contagiante e que, pelos vistos, vai continuar a lançar antídotos aos instalados comodismos.

O formato do evento apresenta-se com algumas inovações. O facto de uma maior distribuição dos espectáculos pelos dias da semana, fará com que Águeda viva esta festa quase ininterruptamente. Para além de cada um dos bares aderentes, serão também anfitriões da programação do OuTonalidades 2000 o bard'O e o Espaço d'Orfeu, onde aliás começará e terminará o evento.

A produção executiva e coordenação do "OuTonalidades" são asseguradas pela d'Orfeu. A Câmara Municipal de Águeda apoia o evento de forma institucional, permitindo o alargamento do horário nocturno dos bares, nas noites do "OuTonalidades". O evento é ainda considerado de manifesto interesse cultural pelo Ministério da Cultura, no âmbito da actividade global da d'Orfeu.

domingo, 1 de outubro de 2000

Impressionante Agenda!

Data e hora

Acontecimento

Local

Qua 11 Out 22:00

Chegada Músicos Expo’Hannover

Bard’O

Qui 12 Out 22:00

Biombo da Festa

Bard’O

Sex 13 Out 22:00

Assembleia Geral Extraordinária

D’Orfeu

Sáb 14 Out 22:00

Projecção Sérgio Godinho no Rivoli

Bard’O

Ter 17 Out 21:30

Biombo da Festa

Braga

Qua 21 Out 21:00

Reunião colectividade UNICC

D’Orfeu

Qui 26 Out 22:00

Oficina “Danças e Toques do Caramulo”

Bard’O

Sex 27 Out 20:00

Reabertura actividade Estudos Gerais

Espaço d’Orfeu

28 Out a 2 Nov

Biombo da Festa

Ponta Delgada

Sex 3 Nov 21:30

Andamento

CEFAS

Sáb 4 Nov 14:30

Oficina “Danças e Toques do Caramulo”

Hotel Caramulo

Sáb 4 Nov 23:00

Biombo da Festa

Novo Ciclo ACERT

Sáb 11 Nov 21:30

Biombo da Festa

Vale de Cambra

15 a 18 Nov

Strictly Mundial 2000

Zaragoza (Espanha)



E ainda...
-> as incontáveis animações no bard'O
-> o Outonalidades 2000

quarta-feira, 20 de setembro de 2000

Crónica de Hannover

Águeda fica a murmurar com o rio
e o avião bate as asas a memoriar
chegados fomos habitantes de um pátio alemão
e um tempo estranho no ar

Ora, nem chove nem sai de cima.

A bandita entra no terreiro
onde havia um sabor a Guarana
trocam-se disparates e joga-se a vida ao ar.
para que areje...

eis que triunfante surge o inesperado,
exactamente porque ninguém esperava...
Mario, a personagem.
Um ser dançante à beira de um ataque psicadélico
contador de histórias e viagens.
Falou de Zanduliak, o seu companheiro de sonhos
e o Caramulo, como não podia deixar de ser,
falou do seu enamoramento por Inana, uma paixão daquelas.
Até dormia de olhos abertos não fosse ela fugir

Entre lagos e planícies,
bosques e veados,
Entre Celle e Amsterdam
calhaus encontrados

Foi uma pedra pá
a Parada chanfrada
e a Plaza animada

e mais historias se perceberão no fim
que o bard'O é que as sabe traduzir

Xiktocas

domingo, 20 de agosto de 2000

Crónicas dos dias de Leicester II

Leicester descansou dois dias.

Domingo, em Coventry, onde tocámos para umas centenas largas de jovens de todo o mundo, no simpósio mundial "Values Have no Boundaries - Action For the Millennium" (fonte: a t-shirt que nos ofereceram), demos de caras com uns trinta portugueses. Tempo apenas para algumas conversas arranhadas num português em evidente mau estado, dada a fraca utilização por estas bandas. Ainda assim, e apesar das rudimentares condições técnicas, a nossa actuação foi um momento de euforia nacional.

Segunda-feira, em Londres, começou por causar estranheza o Big-Ben ser quase tão baixo como a Torre de Belém: a velha falibilidade dos postais. Depois, em frente ao Palácio de Buckingham, indignou-nos a rainha não ter saído à nossa passagem. Entretanto, a presença de David Beckham e a sua respectiva Spice Girl era motivo de uma grande romaria na Virgin Megastore mais central de Londres. Neste caso não era prudente o casal ter saído quando passámos, o que se compreende. A visita agitada acabou por sossegar para a tarde (levo essencialmente a experiência que os bancos de jardim de Londres são duros para dormir uma sesta).

Quando ninguém contava (até eu já tinha mudado o parágrafo), eis que em Londres estava "Lady" Raquel, também ela d'Orfeu. A feliz coincidência do encontro deveu-se a um ocasional palavreado captado numa loja de "souvenirs", atentando contra o preço das coisas numa linguagem familiar que me deteve. Bom, dos breves momentos conjuntos tiraram-se fotografias para provar que foi verdade.

O resto da semana foi dedicada a trabalho intenso nos workshops de design de t-shirt, de página web e de música. Repetidamente na Youth House toca hoje o CD com os três temas compostos e gravados no estúdio por portugueses, estónios e belgas, tendo Joe como técnico de som, ele que no mesmíssimo local já gravou os portugueses "Blackout" e "Hands on Approach". Aliás, foi em estúdio que dois dos belgas, John e Carmelo, se revelaram belíssimos músicos, eles que até aí eram apenas conhecidos do bilhar e das partidas de futebol no ginásio. Os estónios continuavam com resistência todo-o-terreno: impressionou especialmente o conforto dos seus pés descalços no refeitório da Youth House, onde todo o chão é laje. Fria. Em Inglaterra. Certo é que para eles tudo deve ser mais quente que a escandinava Estónia. No capítulo gastronómico, pouco ou nada melhorou nos dias de Leicester. Apenas se condimentam os momentos sofridos de algumas refeições, com "cromos" como Urmas, que se destacou na divina arte de enchafurdar ketchup em tudo o que tivesse aspecto comestível. O sortimento de ketchup da Youth House sofreu duro golpe nestes dias.

Também sofrido foi o jantar de bacalhau assado no forno confeccionado pelas portuguesas, sob as ordens da chefe Ana Balreira. O demolho feito pelos ingleses, comprovado nos escritos da embalagem, não terá durado meia-hora, pelo que o jantar foi particularmente salgado. Ainda assim, a delícia do tempero e o desvio dos fritos ingleses foram tudo para nós naquela noite.

As animadas noites de Leicester, na Youth House e arredores, com rotinas dedicadas a cerveja e a serenatas, conheceram mais uns capítulos nos últimos dias.

Quarta-feira, no centenário café West Cotes, jogámos "skittles", uma espécie de antepassado do bowling, com mecos rudimentares q.b. e numa sala com o encanto dos milhares de partidas ali jogadas.

Quinta, voltámos ao Shed. Registou-se nova euforia dos ingleses perante os excêntricos jovens músicos portugueses. Kenny ("the one man show" de que se falava na primeira crónica) mais uma vez teve pouco que fazer e, enquanto tocou, não esteve sozinho a animar as hostes. Ontem, sexta, Eddie (baterista de uma conhecida banda de Leicester e brilhante relações públicas da Youth House) levou-nos ao Guadi Bar, onde tomámos o último copo com irmãos estónios e belgas, eles que já hoje, manhã cedo para uns, noite tarde para outros, rumaram aos seus mundos de sempre. O mundo dos dias de Leicester foi um sonho, a dream, un rêve, uks unistus. Os nove portugueses têm mais dois dias de Leicester. Em trãnsito só.

Daqui a pouco, Mike leva-me a assistir ao Leicester X Aston Villa em futebol. Havemos de nos divertir no tempo que falta.

Goodbye Leicester!

Luís Fernandes

domingo, 13 de agosto de 2000

Crónicas dos dias de Leicester I

O "Abbey Park Show Festival" decorreu ontem, todo o sábado, no maior parque de Leicester. Este festival anual junta num só dia para cima de 30.000 pessoas e , entre eles, lá estivemos portugueses, estónios e belgas, a viver de perto um ambiente mais próprio de woodstock. Para além da animação de 5 palcos com o que de melhor existe na pop britânica, de milhentas diversões como na festa das Almas da Areosa mas muito maior e, a cada metro, uma roulotte de hambúrguer e batatas fritas, coube a Leicester um dia de sol escaldante. Em Portugal não estaria tão quente. A quase "desinteria" colectiva dos "fast foods" acumulados, mas os caminhos de ida e volta para o Abbet Park (uma hora a pé para cada lado) deixou KO toda a população da Youth House. Já "em casa", ao serão, houve mãos arduamente disputadas, reconhecidas pelos poderes das suas massagens. Costas recuperadas de sestas na relva, a noite segui, como se nada tivesse acontecido.
Portugueses e companhia voltaram a marcar a noite de Leicester.

Os dias de Leicester, para nós nada dependem do cinzento do tempo que faz (que até nem é tanto como se pinta). Mike e a sua equipa sonharam com a Youth House e aqui nos têm, a nós portugueses, aos belgas (os mais próximos do sentir latino) e aos estónios (esbeltas e bárbaros), tal como têm, todo o ano, a companhia de dezenas de comitivas de jovens oriundos de todo os estados membros da UE, ao abrigo deste ou daquele programa, no âmbito deste ou daquele intercâmbio. Tudo acontece na Youth House. É da Youth House que envio esta crónica. O tempo dos dias, perdemos-lhe sempre a conta, entre as incontáveis actividades Em inglês se fala! Invariavelmente, os instrumentos saem do saco e há por aqui música como nunca se ouviu. para Águeda levaremos um sonho mais. Daqueles que nos habituámos já a pensar que se concretizam. Vem cá, Europa!

Da Youth House, já sabemos, um complexo moderno construído há dois anos, cuja missão primeira é continuamente receber jovens da UE e desenvolver projectos multi-nacionais na área da música com a intervenção das novas tecnologias. Paredes meias com o corredor dos alojamentos, um senhor estúdio de gravação. Ao que se vai sabendo, aqui gravaram já algumas bandas pop-rock portuguesas. Aliás, é bem visível por toda a Youth House, a omnipresença portuguesa, num enorme poster do Festival Mundial da Juventude 98 em Lisboa e em inúmeras fotos expostas de gente que dizem ser portugueses, ora posados por estas bandas, ora com a presença destes ingleses em Évora, no Pinhal Novo ou em Lisboa.

O que eles gostam de portugueses confirmou-e-me mquando perguntei ao Mike, entre copos no Shed Club, porquê o convite aos portuguesas. O Paulo Brites estivera aqui em Novembro, com vinte representantes de outros países. Deste leque saíram convites para a Grécia (que não veio), Estónia, Bélgica e Portugal, para trazerem, agora sim, uma comitiva alargada e, sob o signo da música, concretizarem um projecto multi-nacional. Mike não precisava ter respondido, apesar de o ter feito (eu é que não pesquei tudo o que ele disse): apontou, com um sorriso encantado, para o Joca e para o Bruno que, a essa hora tocavam com o "one man show" contratado pela casa. Ainda assim, apanhei-lhe um sentido "I like the portuguese people". Essa noite no Shed (quinta-feira passada) foi de arromba, com todos os nove portugueses a brilhar. AO ponto de Mr. Rodrigo, professor catedrático da Universidade de Leicester e assiduo cliente do Club, reclamar ter sido a sua melhor noite no Shed, o que exprimiu em português quase correcto.

Excepção feita a essa noite no Shed (cujas torneiras fecharam tradissimo, vá-se lá saber porquês), todas as noites vemos os bares fecharem o balcão às onze da noite. Ao fim-de-semana, fecham especialmente tarde...às onze e vinte. Mesquinhos estes ingleses. O que não nos tem impedido de prolongar a "paraa"poeruguesa, Youyh House adentro, com serenatas toda a noite, batendo todo o sector feminino, porta sim porta sim. Ao fim destes cinco dias, este tipo de movimentação é já ritual e tem cada vez mais aderentes. Até à data, também já os belgas partilham os mesmos acordes e o mesmo sentido estratégico, com Vito, um filho de emigrantes italianos na Bélgica - à cabeça.
Quando está tudo acordado, vamos para a porta da Youth House, tocar para o quente destas noites de Leicester. A cidade não está em polvorosa, mas sente-se aqui e ali o reboliço satisfeito de gente de Águeda na rua.

domingo, 28 de maio de 2000

Que bem se consertou!

Das tuas mãos divinas de Poeta
Herdei a lira que não sei tanger.
in Ode a Orfeu
(Miguel Torga)

Já Conserto. Maio 26. Espaço d'Orfeu, Águeda.
Lembrou-se a d'Orfeu de consertar uma casa com palavras de poetas e notas de músicos e gestos de dança. Assim com'assim, onde não chega a prata, revista-se de arte um espaço antigo, que ela fica logo a cheirar a novo, com aquele sorriso de gente sem rugas. E quem como eu está já farto delas, fica de alma renovada em folha.
Espreitei a tarde na d'Orfeu. Misturavam-se poemas com notas de música, cartazes, esfregões, tochas, pressa, sabões, flores, ansiedade, velas, máscaras, cultura e logo à noite?, momentos, tesouras, fios, põe-se o Torga na entrada, computadores programas, deixe ver que eu limpo, queremos ver o Torga a falar no bard'O, que lindo está o bard'O!, isto aqui tem dedo de quem sabe, já são oito horas?
Às 21, quando a noite já espantava o dia, juntam-se os artistas na rua, à espera de um mago. Ele chega à varanda e deixa cair novidades. Uma a uma, para que ninguém se empanturre de repente. Os espectáculos iam começar, respeitável público.
Vou seguindo artistas e público e por cima de mim chove já um poema, clamado e rufado do varandim do sótão. São o Bruno e o Bitocas a dizer e a batucar Craveirinha, ao lusco-fusco. A Castilho arranca assim uma página de Moçambique e larga-a no Já Conserto. E lá vão os espectadores escada a cima sacudir as palavras da selva africana e a testemunhar um encontro de instrumentos e de tocadores, que se saúdam com o Malhão e tanta alegria, tanta, que escorre para o público espantado. E este aí vai, a demandar salas e sotão, à procura da surpresa, que ora lhes sai no Roque do Lixo, ora na dança da Portela, ora na arte de dizer do Grupo Poético de Aveiro, orna nos clarinetes do Conservatório de Música de Águeda, ora na mestria de Ricardo, ora na palavra de Antero cantada por Luís Fernandes, ora na Festa dos Biombos, ora na beleza de Raquel do Cardume, que mais parecia a Eurídice perdida por Orfeu, ora na simpatia da Mafalda e do Paulo, que se ocupam do chá e dos biscoitos da assistência, ora num arlequim que, ainda da Portela, nos traz a arte de brincar em todo o tempo.
Aguarda o bard'O a sua vez, todo enfeitado de velas, heras e flores brancas e dos Momentos do Zé. E é a vez de Alexandra trazer novamente a poesia da Castilho.
Anda por ali uma criança de Moçambique, que a Cheia boquejou, mas de tão cheia poupou. Queda-se o público, que a voz da artista se modula no silêncio e na música de Luís Fernandes. E cresce a poesia no bard'O. Torga enobrece uma parede, a evocar Orfeu, o poeta que encantava árvores e bestas, com a sua lira. HáCáEcoHá prende-nos, envolve-nos até nos lenga-lenga, e seguimos os gestos, as perguntas, os risos, o emaranhado destes trovadores de poder encantatório da palavra. Guilherme Guerra continua a dizer poesia em nota altíssima. Abana, agride, choca , enternece, apaixona e grita-nos aos ouvidos. Mas ficávamos a ouvi-lo toda a noite. Agora são músicas da Castilho e oferecem-nos petites fleurs a toda a gente. Como as margaridas, que se espetaram numa tocha e nos amaciam a turbulência.
E no fim, é a festa tocada em saxofone, a guitarra , a bombo, a flauta, a palmas, a cantigas, a terminar uma noite em que escolas se juntaram num jardim. Pela mão de Orfeu.
Que ninguém se atreva a duvidar! Ali, na venda Nova, continua Orfeu a encantar.

Odete Ferreira

sexta-feira, 26 de maio de 2000

Já Conserto

Espaço d'Orfeu, 26 Maio 2000

Foram rodos de gente a seguir jardim acima e, uma vez em chão que nasce, deixaram aventurar-se por conta dos riscos e rabiscos do Já Conserto.
Espontânea e definitivamente se instalaram sons na sala dos instrumentos, paredes meias com um corredor não raro congestionado, enquanto por cima se ouviam passos de muitos no sótão, também eles por certo à procura de tudo e de nada; terão encontrado tudo aquilo que não se acha. À mesma hora, o pátio era auditório tanto daquilo que acontecia no alpendre como do que se vislumbrava à meia-luz na varanda do sótão, lá em cima imponente. O bard'O, em início de carreira, desde as nove e meia não mais vazou de um público nem culto nem leigo, antes pelo contrário.
Com todo o público compartilharam o Espaço d'Orfeu numa única noite, tetos do Conservatório de Música de Águeda, poesos do Grupo Poético de Aveiro e possessas de cajueiros da Escola Secundária Marques de Castilho, pinturiadads do Qua'Arte mai-los seus pupilos musicários ora em formato jotapêé ora numa d'improvício, para além de Máscaras Descaradas, Cardumes, HáCáEcoHás, Biombos da Festa e outros que tais, vulgo d'Orfeu.
Tão velhas paredes transpiraram, tudo em honra das novas aragens que lhe amaciam a idade da pedra. São ares de uma cultura nova e contagiante, daquela que há cinco anos poisou por aqui e que, pelso vistos, lançou antídotos aos instalados comodismos.