domingo, 6 de novembro de 2005

O Gesto Orelhudo

Senhoras e senhores, correu o pano sobre o Gesto Orelhudo 2005!
De 28 de Outubro a cinco de Novembro, a partir de Águeda, a d'Orfeu comandou os serões culturais de um público regional, fiel às iniciativas desta Associação.
Se soubesse, usava todas as linguagens que subiram ao palco de Recardães ou da tenda no espaço d'Orfeu. Traduzia o texto para música, corpo, poesia, luz, movimento, riso, inglês, galego, italiano, e entremeava-o de som, silêncio e aplauso e até de vontade de mais Gestos Orelhudos a aquecerem noites de outonos.
Corrido o pano, restam as últimas impressões do público, que se vai ficando pelo espaço d'Orfeu, a fazer desta vivência colectiva um elo em tempo de espera. Há os músicos que ainda arregalam os ouvidos com as baterias matemáticas do Tim Tim por Tim Tum, os inocentes a cabriolarem de memória os circenses britânicos Chipolatas, os clássicos amantes da música erudita e da poesia universal do Teatro Instável de André Gago e Nicholas McNair, os doidos varridos pela criatividade da italiana Laura Kibel, da sua Traviata, dos pássaros cantantes e do seu corpo travestido, os cem por cento latinos agarrados pelo riso e escárnio do trio ítalo-galego Ruso Negro, os que partiram o coco a rir com os australianos The Von Trolley Quartet, os que aplaudem sempre Camilo, em livro, em marionetes, em todos os suportes artísticos, os que secretamente imitam o malabarismo dos pés do ArTango, tão ardentemente portenho, os filhos ingovernáveis da Mamã Lusitânia do Trigo Limpo teatro Acert e da Ibéria do Teatro Peripécia, tão maledicentemente nossos, os que se deram conta que as cordas australianas do Quartetto Euphoria também falam muito riso. Há ainda os que criticam, os que sugerem, os que mudariam, os que fariam melhor. Ainda bem que contribuímos. A Associação escuta e agradece.
Sobra-nos tempo para felicitar a d'Orfeu a escassos dias do seu décimo aniversário. Olhamos os programadores, os directores, os sonhadores, todos os artistas desta paradoxal associação, tão pequena e tão grande, tão reconhecida e tão esquecida, tão rica e tão despojada. São eles que partem à descoberta de novas formas de arte de palco e as descortinam magicamente nestas noites da diferença.
São dez anos que se vão tatuando na pele destes jovens que se recusam a um alinhamento comercial ditado pela cultura dominante e lutam pelo direito às suas próprias escolhas. O público já entendeu e aplaude este festival que continua a enraizar-se no nosso imaginário.
Dez anos, senhoras e senhores. Que o pano volte a abrir-se no Gesto Orelhudo 2006! Que a d'Orfeu continue a carimbar culturalmente a região!
Odete Ferreira

terça-feira, 25 de outubro de 2005

Recardães - Novos acessos rodoviários criam novas expectativas culturais

A abertura do novo troço de ligação do nó de Recardães do IC2 ao IP5 colocou a freguesia numa situação geográfica privilegiada. Esta é, pelo menos, a convicção de Luís Fernandes, coordenador da associação d'Orfeu, que entende que, em termos culturais, Recardães se tornou numa localização estratégica.

Dois factores estão, por isso, a gerar grande expectativa relativamente à adesão do público ao festival “O Gesto Orelhudo” que começa esta sexta-feira e se prolonga até ao dia 5 de Novembro: por um lado, as condições técnicas do Auditório, consideradas excepcionais no contexto da região, e, por outro, o fim das obras estruturais, quer no que respeito aos acessos rodoviários quer no que concerne à urbanização do espaço envolvente do Centro Social Paroquial.

Para o porta-voz da d'Orfeu, esta é uma questão essencial em termos de programação e expectativas. Comparando esta edição do festival com a de há três anos, Luís Fernandes lembra que «em 2002, só havia o acesso antigo a que se juntava a circunstância de à volta do Centro Social Paroquial estar tudo em obras». Nessa altura, as pessoas estacionavam «em cima de lama e montes de terra; havia inclusive estradas cortadas». Ainda assim, o auditório esteve «sempre cheio».

Com as obras terminadas e «um acesso de dois minutos desde Águeda», aumenta a expectativa sobre a receptividade do público. Tendo apostado numa programação internacional, a adesão dos espectadores é uma das preocupações fundamentais do festival.

Luís Fernandes anota, neste sentido, que até o preço dos bilhetes foi estabelecido de forma a não constituir obstáculo. «Tivemos em conta as dificuldades económicas por que atravessam as famílias», explica. É por isso também que a associação criou, para além dos bilhetes diários (de 4 Euros para os dois espectáculos de cada noite e de 2 Euros para apenas a segunda parte da noite) um bilhete de festival (válido para todas as noites), no valor de 10 Euros. «Três dias antes do final do festival, ainda compensa adquirir este tipo de bilhete».

Considerado de “superior interesse cultural” pelo Ministério da Cultura, o festival “O Gesto Orelhudo” acolhe, nesta quarta edição, companhias da Argentina, da Austrália, de Espanha, Itália e Reino Unido, bem como várias produções nacionais. Seis dos espectáculos acontecem no Auditório de Recardães, considerado pela organização como uma “estrutura talhada para acolher produções de envergadura”.

Madalena Oliveira

segunda-feira, 22 de agosto de 2005

Espectáculos d'Orfeu pelo país!


concerto Toques do Caramulo em Tomar, a 20 de Agosto


Em mês de defeso cultural na cidade, a d'Orfeu traz os seus espectáculos de criação própria pelo país. Depois de uma grande embaixada artística da d'Orfeu no Andanças a abrir o mês, continua Agosto a ser de circulação pelos palcos portugueses.

No passado sábado, foi noite de “Toques do Caramulo” em Tomar, na várzea, junto ao Nabão, para um público completamente entusiasmado pelo concerto, que aconteceu no âmbito das animações de Verão promovidas pela Câmara Municipal de Tomar.

“Toques do Caramulo” tem novo concerto agendado, a 4 Setembro, na Festa do Avante, no Palco 1º de Maio, onde passa muito do melhor da música portuguesa, comprovando a pujança e reconhecimento pelo percurso recente deste espectáculo.

Entretanto, já esta semana, “Muito Riso, Muito Siso” sobe ao palco do novo Auditório Municipal de Vieira do Minho, sexta-feira 26 de Agosto, pelas 22 horas, no âmbito da programação de Verão daquele município minhoto.

Em Setembro dá-se a "rentrée" cultural em Águeda! Destaque para o arranque da Escola de Música Tradicional e para os últimos espectáculos das Itinerâncias pelas freguesias, tudo antes da abertura do OuTonalidades e tudo o mais que há-de vir!


quinta-feira, 21 de julho de 2005

Soltar a Língua

pelo TRIGO LIMPO teatro ACERT


Sexta 29 Julho 2005, 22 horas
Auditório 13 de Agosto
Mourisca do Vouga (Águeda)



Pela quinta vez junto de nós, o espectáculo “Soltar a Língua”, promete recordar alguns dos mais belos momentos da passagem do Trigo Limpo teatro ACERT por Águeda. O espectáculo na Mourisca a 29 de Julho acontece no âmbito das Itinerâncias.

Em “Soltar a Língua”, um actor, uma cantora e um músico estabelecem momentos de parceria que proporcionam ao público situações de viva comunicação. O palco, enquanto espaço de partilha de distintas linguagens, demonstrando que a informalidade não é sinónimo de falta de rigor artístico e que a comunicação com o público se pode estabelecer num apelo à sua participação activa. Um espectáculo em que a criação se estabelece num compromisso entre a inquietação inconformista, o humor e a poesia.

Teatro, poesia e canções num percurso de revisitação por autores contemporâneos. Um espectáculo que procura, num contacto íntimo com o público, divulgar sentidos e sentires poéticos com teatralidade.

“Soltar a Língua” é um espectáculo recorrente nas programações da d'Orfeu. E assim o é porque o público sempre disse presente quando se tratou de aplaudir José Rui Martins e seus pares. Isto para além da cumplicidade cultural que liga a d'Orfeu desde sempre, à companhia de Tondela.

O espectáculo “Soltar a Língua” é quase um fenómeno de culto entre nós. Foi já apresentado em Águeda por diversas vezes: em 1999 no “Festival O Gesto Orelhudo”, nas Cavalariças da Casa do Adro; ainda em 1999 no “OuTonalidades’99”, no Johnny Bar; em 2000 no “Cinco Anos É Todos os Dias”, no Espaço d'Orfeu; e em 2001 no Ciclo “Isto É Trigo Limpo”, no CEFAS.

Certo é que José Rui, Mariana Abrunheiro e companhia já não subiam aos palcos de Águeda desde 2001. O espectáculo está renovado e nunca deixou de estar em cena pelo país e estrangeiro. O público d'Orfeu volta a ter oportunidade de o revisitar, cruzando-se com o de Mourisca do Vouga e de toda a freguesia da Trofa, a quem é destinada esta iniciativa conjunta da d'Orfeu e da Câmara Municipal de Águeda, com o apoio da Junta de Freguesia de Trofa do Vouga.

Declamação e voz: José Rui Martins

Voz: Mariana Abrunheiro

Guitarra e teclados: Carlos Peninha

Contrabaixo e baixo eléctrico: Miguel Cardoso

Bateria e percussões: Juca Monteiro

terça-feira, 14 de junho de 2005

A crise da cultura

Não há fome que não dê em fartura. É o melhor provérbio que lembro de memória para dizer o espanto com que assisti, numa sala quase vazia, a um dos melhores concertos que se fizeram em Águeda nos últimos tempos. Digo espanto, porque tudo faria crer que o espectáculo de arranque do Junho Jovem 2005 fosse um evento de massas. Apesar de quase gratuito (os bilhetes custavam apenas dois Euros), o concerto dos Berrogueto, um dos melhores grupos musicais da Galiza, teve o aplauso de pouco mais de uma centena de espectadores. No mínimo, inacreditável num país que, há pouco mais de uma década, tinha vergonha da ignorância cultural do seu povo.
Há vinte anos, Portugal era, na verdade, um país totalmente sedento de tudo. Nas estantes dos supermercados faltavam ainda os produtos que praticamente só os emigrantes traziam no Verão quando vinham de férias. Para as universidades iam ainda sobretudo os filhos de famílias de classe média e alta. A RTP era uma paupérrima amostra da televisão que já se fazia “lá fora”. Culturalmente, Portugal era um país de escassos recursos. Fora dos grandes centros urbanos (Lisboa, Porto, Coimbra e eventualmente Braga), a oferta cultural não deixava grandes alternativas aos bailes de salão e às romarias religiosas.
Hoje, porém, todos conhecemos o Kinder Surpresa, a Nutela, o Ketchup, os hambúrgueres do McDonalds, o queijo Philadelphia, as pizzas pseudo-italianas e os cereais de pequeno-almoço. Os municípios também já têm agenda cultural, todas as cidades têm associações dedicadas ao teatro, ao desporto, à música ou a quaisquer outras actividades artísticas. Não faltam salas de espectáculo com qualidade um pouco por todo o país. Pequenas ou grandes, todas conhecem o entusiasmo de uma ou outra colectividade para dominar o palco.
Recardães tem ainda a particularidade de ter um dos melhores auditórios do distrito de Aveiro. No entanto, à juventude, ao profissionalismo e ao sonho de uma cidade modernamente culta, responde-se com uma ausência gélida, de indiferença pelo dinamismo artístico e de visível retorno à ignorância do Portugal de há 20 anos.
Dirão alguns que a escassa afluência a este espectáculo se deveu ao facto de ele acontecer no dia 10 de Junho. Não acredito, porém, que tenham estado muitos aguedenses em Guimarães a comemorar o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, nem tão-pouco que grandes massas se tenham deslocado para umas mini-férias no Algarve. Tenho estado em muitos eventos nas últimas semanas e em todos reparei no mesmo: na ausência generalizada de público. É por isso que insisto na tese de que na cultura é como nas guloseimas das crianças: lembro-me bem do tempo em que os ovos Kinder eram um luxo delicioso a que as crianças portuguesas só tinham acesso quando os amiguinhos emigrados na Alemanha vinham de férias ao país dos pobres; hoje as crianças portuguesas comem ovos Kinder ao pequeno-almoço e o país dos pobres é agora um país de desregrados e fartos.
Tenho pena que o décimo aniversário da d'Orfeu coincida com a cultura da “Quinta das Celebridades”; que à excelência da arte que é hoje possível deslocar a meios quase rurais se prefiram as conversas fúteis de café; que o espírito se sustente com encenações de um novo tribalismo, como o que hoje representa a cultura das discotecas…

Madalena Oliveira

terça-feira, 7 de junho de 2005

Junho Jovem’05 arranca em Recardães

Os Berroguetto são sete músicos, cujo reportório tem como objectivo projectar o “folk” galego. É com este grupo que se iniciam em Recardães, na próxima sexta-feira, dia 10, os espectáculos do Junho Jovem, uma iniciativa conjunta da Associação Cultural d'Orfeu e da Câmara Municipal de Águeda.

Coincidindo com o décimo aniversário da d'Orfeu, o Junho Jovem arranca com uma participação espanhola, no prolongamento do “Mestiçal Peninsular”, festival que a associação promoveu no ano passado. De acordo com a nota enviada à comunicação social, trata-se de «um grupo de realce internacional», «uma banda inovadora, com ideias diferentes e conceitos originais».

Os Berroguetto nasceram em 1996, com o álbum “Navicularia”, considerado um êxito pela crítica e pelo público. Com mais dois álbuns lançados entretanto, em Recardães, o grupo vai interpretar sobretudo temas do último disco, o “Hepta”.

Os bilhetes para este concerto, que tem início marcado para as 22 horas, custam dois Euros e estão à venda na d'Orfeu. Pouco antes do espectáculo, vão estar também à venda no próprio Auditório do Centro Social Paroquial.


Localização estratégica

Para Luís Fernandes, dirigente da d'Orfeu, o Auditório do Centro Social Paroquial de Recardães é o local ideal para este concerto. Para além de se pretender diversificar a oferta cultural, a localização estratégica, as características e condições dos locais de espectáculo são critérios determinantes para a organização.

À semelhança de há três anos, a associação está também a negociar com o Centro Social Paroquial o acolhimento do festival “O Gesto Orelhudo”, agendado para o Outono. As negociações com a Direcção da instituição estão já em curso, mas não está ainda confirmada a possibilidade de centrar outra vez os espectáculos deste festival em Recardães.


Madalena Oliveira