Retrospectiva das 5 edições do Festival O Gesto Orelhudo (FOGO)
Fausto Ferreira
Relembrar os diversos Gestos Orelhudos não é tarefa fácil mas tentarei estar ao nível destes festivais o que é ainda mais difícil.
Do longínquo ano de 1999 recordo-me vivamente do mais espectacular espectáculo ao ar livre que vi (perdoem-me o pleonasmo). “Au Gaciar” foi qualquer coisa que me deslumbrou e encantou. Guardo religiosamente um cartaz da “viagem teatral ao fim do milénio”. Recordo ainda os ritmos quentes dos “Samba Lêlê” ou Piazzola reinventado pelos “4Portango”. Naquele dia o puto de 15 anos ficou marcado a ferro e FOGO.
Talvez por isso não seja de estranhar que passasse o mês de Julho de 2000 no “Cinco Anos é Todos os dias”, o que me fez querer estar numa organização destas. Ao longo de 2000 contactei ainda com o “Já Conserto” e o “Micro Festival” onde vi duas pessoas a tocarem meio violino cada uma para espanto e deleite meu.
Foi assim que cheguei como voluntário ao FOGO de 2001. Se como espectador qualquer um se sente privilegiado por assistir a um espectáculo organizado pela d’Orfeu, como voluntário a recompensa é ainda maior. Sabe bem contribuir para pôr de pé uma série de espectáculos fantásticos e ver os olhos do público brilharem com a voz de Bernard Massuir. Ou o sorriso estampado no rosto de novos e menos novos com circo de rua “Gigantones e Circaçudos”. Ou a dança extática dos cabo-verdianos “Fou-Naná”. Ou os ritmos fulgurantes dos balcãs com “Rodopis”. Ou a percussão reciclada dos “Sonoplástica”. Já para não falar de “Les Pompistes” e do seu humor gestual a acompanhar as vozes a capella. Ou da jóia da casa “Os Cantautores” que interpretaram entre outros Sérgio Godinho que esteve exposto “à Lupa”. Lembro-me de montar o palco para Sérgio Godinho com o céu nublado e da sua promessa de que se não chovesse tocaria “A Balada da Rita”. E assim foi, a noite chegou com céu limpo e a canção fez-se ouvir numa raríssima oportunidade pois o músico (quase) nunca a toca ao vivo.
Em 2002, inovou-se com a mudança para o Outono e uma programação de auditório. Infelizmente, vi pouco desta edição mas lembro-me do encanto de rever Bernard Massuir e da prata da casa com a estreia de “Muito Riso, Muito Siso”.
Durante 3 anos, Águeda ficou sequiosa de novos FOGOS. Em 2005, desde a abertura com 4 baterias (“Tim Tim Por Tim Tum”) e o trio hilariante “The Chipolatas” a um encerramento eufórico com o “Quartetto Euphoria” houve espaço para tudo. Acerca de Música foi uma mistura rara entre um pianista e um actor e entre pedagogia e humor. Quando me lembro de “Ruso Negro” aflora-me um sorriso aos lábios. É indescritível, faz rir e pronto. Tal como “The Von Trolley Quartet”. “Cartoon Orchestra” fez-nos reviver os grandes clássicos do pequeno e do grande ecrã.
O ano passado, mais presente na memória de todos pela distância temporal, tem só por si momentos para serem recordados durante muitos anos. Lamentavelmente perdi bastantes espectáculos, mas guardo na retina a 3ª apresentação de Bernard Massuir em Águeda os galegos “Marful” nessa mesma noite. Para o fim, os mirabolantes “Jashgawronsky Brothers” atearam o FOGO com uma performance incrível. O trompete improvisado com a careca a fazer de surdina ou a percussão feita de sanita, caixote de lixo e água com gás levaram o público às lágrimas. “Toques do Caramulo” encerraram tendo momentos solenes como o solo vocal de Bernard Massuir em “Debaixo da Oliveira” voltado a abrir os sacos lacrimais. Por outro lado, momentos cómicos não faltaram ou não seria Luís Fernandes a comandar as hostes.
Para este ano, a expectativa é grande. Conheço bem os cantos à casa por isso sei que não vou ser defraudado. “The First Vienne Vegetable Orchestra” promete casa cheia no Cine Teatro enquanto que Léo Bassi, um nome maior desta área está finalmente em Águeda. Destaco ainda os repetentes “Slampampers”, “Yllana” e “Peripécia Teatro”. Com certeza teremos um grande festival e eu lá estarei para ajudar a concretizar este sonho lindo. Porque vale a pena incendiar este FOGO.
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