quinta-feira, 18 de maio de 2006
A música não tem fronteiras
Águeda é uma cidade pequena no tamanho mas grande culturalmente, onde a Associação Cultural d’Orfeu estabelece pontes culturais com o mundo. No universo cultural aguedense destacam-se inúmeros grupos etnográficos, bandas filarmónicas, grupos corais, grupos musicais bem como um pólo universitário, um conservatório de música e várias escolas que alimentam a vida cultural deste concelho.
Eu cheguei aqui como voluntária do SVE em Julho 2005 para integrar o grupo de voluntários da d’Orfeu e encontrei um espaço cultural aberto, entusiasta, pleno de energias positivas, onde eu recebi mais do que dei. A cultura, a música, a mentalidade, das pessoas, foram a porta para eu respirar o espírito português.
De início foi difícil para mim retribuir tudo aquilo que estava a receber. Era tão rica a experiência que eu não tinha como responder.
Um dia decidi partilhar a riqueza musical dos Balcãs com este gente de Águeda que tanto me estava a dar. Por isso comecei em formar um grupo integrando, de momento, o Orfeão de Águeda, sócios de d’Orfeu e simpatizantes de minha iniciativa, para tornar possível a interpretação da musica coral dos Balcãs.
O reportório que eu proponho inclui música sacra ortodoxa, música judaica e música popular da Sérvia. Os elementos do Orfeão são o principal corpo deste grupo, todos foram muito simpáticos comigo e aplaudiram o meu gesto, e esperamos a participação de todos os que gostam de cantar.
Penso que a música deve ser usada para romper todas as fronteiras, para unir todas as pessoas para juntar todos os que amam a arte.
Convido todos os grupos corais e todos as pessoas que gostam de cantar a integrarem este projecto para romper as fronteiras que temos. As inscrições estão abertas na d´Orfeu ou no Orfeão nos dias dos ensaios (quintas–feiras às 21h30).
Stanislava Pavlov, Águeda Abril 2006.
quinta-feira, 11 de maio de 2006
CLOWMIX - projecto de clownterapia
Existe a saudável, farta gargalhada mas existe também o sorriso doce que ilumina um rosto...
Que o rir tem efeitos positivos já é uma certeza científica, de facto esta demonstrado que rir é um fenómeno relaxante e purificativo das vias respiratórias superiores. Todo o corpo que ri relaxa-se. Desde quando se começa a rir o coração e a respiração aceleram, o ritmo das arterias baixa e os músculos relaxam. Diz-se também que a gargalhada combate a prisão de ventre porque provoca a ginástica abdominal. É por isso que a figura do palhaço é muito importante. O palhaço é aquele que faz rir e que nos leva ao mundo da fantasia e nos faz esquecer deste mundo triste e cinzento. Pensando nisso decidi começar a fazer de palhaço no hospital: para experimentar a trazer cores diferentes a um lugar onde muitas vezes tudo parece escuro.
Começei este meu trabalho na Itália com uma associação de palhaçoterapia no hospital da minha cidade . Esta para mim foi uma descoberta muito importante porque começei a perceber os efeitos positivos do bom humor. A criança hospitalizada deixa-se transportar para um mundo irreal através de jogos e brincadeiras; em frente dum palhaço a criança consegue de esquecer a própria condição de doente.
Foi assim que quando cheguei a Portugal por fazer o serviço voluntário europeu na d’Orfeu, decidi aproveitar esta minha possibilidade de trabalhar com uma associação cultural para trazer e desenvolver esta minha experiência.
A primeira fase do meu projecto de clowterapia, que chamei CLOWMIX, consistiu em encontrar outras pessoas que como eu são interessadas a figura do clown ou que queriam fazer uma nova experiência, queriam pôr-se no jogo.
Os outros voluntários que como eu estão a trabalhar com d’Orfeu e as pessoas de d’Orfeu foram para mi fundamental para transpôr o meu projecto da teoria à pratica. Conseguimos criar um grupo de mais ou menos sete pessoas que cada quinta-feira por turnos vão entreter os meninos do Hospital de Águeda.
Em 26 de Janeiro os primeiro palhaços fizeram entrada no hospital trazendo consigo balões, bolas, pintura, bolas d’água: todo o material necessário para corar o ambiente. As crianças ficaram espantadas e felizes e deixaram-se envolver sem problema. O pessoal hospitalar foi e continua a ser muito agradável, de facto dão-nos um óptimo apoio, porque muitas vezes é a primeira ponte entre nos palhaços e a criança.
Tive a possibilidade também de começar este projecto na Cerciag, de facto uma vez cada mês o nosso grupo de palhaços aparece ali cheio de alegria para brincar e jogar. O pessoal da Cerciag responde muito bem a nossa presença e cada encontro é transformado numa verdadeira festa.
Estou muito feliz com esta minha experiência porque com isto estou a aprender muitas coisas. A coisa mais importante que estou a aprender é abrir o meu coração aos outros sem medo e deixar-me transportar pela energia positiva que a ligação entre as pessoas cria.
Eu gostaria que este meu projecto fosse só um ponto de partida para a comunidade, gostaria que este projecto fosse aberto a todas as pessoas que querem partilhar amor...porque ser palhaço e sobretudo um estilo de vida.
Rir faz bem!
Sabina Galletto, Abril 2006
Testemunho Sabina Galletto
ERA um dia de quase verão quando eu, uma palhaçinha inexperiente, depois de muito viajar cheguei a uma cidade que para muitas pessoas (e agora também para mim) é o centro do mundo:...Águeda.
Águeda, pequena cidade de Portugal, que na aparência não tem nada mas na realidade tem tudo o que precisa, especialmente um grande coração chamado d’Orfeu.
d’Orfeu é o órgão batente da cidade, ou seja o órgão que dá ritmo, dinamismo e sobretudo paixão à mesma. d’Orfeu é um pequeno mundo onde a linguagem comum é a arte...qualquer expressão de arte é contemplada e partilhada.
Entrei assim, por acaso, neste mundo fantástico onde a princípio estranhei tanta lindeza e tanta paixão mas depois fiquei feliz por ter tanta sorte.
As pessoas acolheram-me com muito amor e acompanharam-me naquele que para mim era um novo mundo. Uma atmosfera de festa e de amizade ajudou-me a aprender muito, a abrir-me mais à vida e às coisas lindas. Aqui, neste pequeno mundo d’Orfeu, saboreei a, até agora, mais linda experiência da minha vida. Cada pessoa que conheci na d’Orfeu ensinou-me coisas importantes sobre mim e sobre a vida. Mas as pessoas que talvez me ensinaram mais foram os jovens da Cerciag do projecto de “arTErapia” que, com simplicidade, me demonstraram que as barreiras existem só se nós as criarmos. Foi importante para mim “palhaçar” em Portugal com a ajuda dos meus amigos Silva e Paulo, assim como criar e desenvolver o projecto “Clowmix” de palhaço-terapia no Hospital de Águeda. A rir e a brincar aprendi que a coisa mais importante é partilhar. Partilhar sensações, artes, problemas, tudo... para aprender a ficar melhor, a estar mais próximo dos outros, a sermos mais humanos.
E assim, passado um ano, está a chegar a hora de regressar à minha terra. Volto mais feliz, mais palhaçinha, com o coração aberto e cheio de amor pela vida e pela arte. Estou muito mais forte e segura, pronta e aberta a novas experiências.
Obrigado Portugal...Obrigada d’Orfeu!!
Sabina Galletto
Maio 2006
domingo, 7 de maio de 2006
Concerto do Culto de Orfeu
“Artistas…
Artistas ou seja criaturas inúteis, que fazem eles que preste, só depois de mortos os apreciam, (…) até admira que não coma a sopa dos pobres, o que a gente sonha para um filho e, vai na volta, prosas…”
- Não conheces a Rosinha dos Limões, pois não, Lucinda?
- Sim, sim, a minha avó cantarolava-a muitas vezes, lembro-me bem,
quando ela passa, junto da minha janela…
E a Lucinda, uns trinta anos a ressumar amanhãs, enternecia-se de uma ternura de sépia, como se beijasse um retrato antigo. Em minha casa, era a minha mãe que trauteava a Rosinha, a minha mãe, que para os meus seis anos cantava melhor que a Amália!
Tive pena que a minha amiga não tivesse dado de caras com a Rosinha, “arranjada” pelo Culto de Orfeu, na noite de três de Maio, num concerto integrado na Feira do Livro, promovida pela Junta de Freguesia de Águeda. Ossos do ofício, queixa-se ela! Desta vez, a Rosinha trazia no cesto uma guitarra, umas colheres, uma concertina, uma flauta. E atrás dela, o Rogério, o Artur, o Bitocas e o Luís. Os Fernandes. Quem não conhece estes irmãos? Cá para mim, a avó deles também lhes trauteou a infância com a Rosinha dos Limões! Esperta a Rosinha! E ali, no teatro de bolso do Orfeão de Águeda, eu juro que vi limões em forma de notas, a dançarem no ar, os meus olhos atrás delas, as minhas mãos quase a agarrá-las, eu a levantar-me, eu quase a correr para o palco, e eles a arrecadarem a Rosinha a sete chaves, na alma dos instrumentos, e a ovação do público a estalar por todos os poros!
E afinal que fazem eles que preste? Quase me azedo de inveja!
Eles só nos enfeitiçam! Só nos fazem perder a compostura, rir, aplaudir, abanar o capacete, passar-nos mesmo, esquecer o déficit, as aulas de substituição, a idade da reforma, enfim aquele rol de coisas sérias que nos ajardinam o dia a dia!
É que, durante quase duas horas, ninguém segurou as pontas. Foi uma violência aquele cortejo de talento! Partiu-se de Águeda e andarilhou-se pelo resto do mundo. Com a segurança do Artur, a sobriedade do Rogério, a entrega do Bitocas e a paixão do Luís, que, se o deixassem, levantava voo e ainda hoje andava a flautear nas nuvens. Todos a electrizarem-nos.
Se o concerto fosse na Casa a Música, ou no Centro Cultural de Belém, quem sabe se mais peregrinos se juntavam àquela caminhada? Mas que aquela noite fica na memória de um teatro a rebentar pelas costuras, ah isso, que ninguém tenha a mais pequena dúvida! Artistas!
Artistas ou seja criaturas inúteis, que fazem eles que preste, só depois de mortos os apreciam, (…) até admira que não coma a sopa dos pobres, o que a gente sonha para um filho e, vai na volta, prosas…”
A mãe de António Lobo Antunes a suspirar desgostosa
- Não conheces a Rosinha dos Limões, pois não, Lucinda?
- Sim, sim, a minha avó cantarolava-a muitas vezes, lembro-me bem,
quando ela passa, junto da minha janela…
E a Lucinda, uns trinta anos a ressumar amanhãs, enternecia-se de uma ternura de sépia, como se beijasse um retrato antigo. Em minha casa, era a minha mãe que trauteava a Rosinha, a minha mãe, que para os meus seis anos cantava melhor que a Amália!
Tive pena que a minha amiga não tivesse dado de caras com a Rosinha, “arranjada” pelo Culto de Orfeu, na noite de três de Maio, num concerto integrado na Feira do Livro, promovida pela Junta de Freguesia de Águeda. Ossos do ofício, queixa-se ela! Desta vez, a Rosinha trazia no cesto uma guitarra, umas colheres, uma concertina, uma flauta. E atrás dela, o Rogério, o Artur, o Bitocas e o Luís. Os Fernandes. Quem não conhece estes irmãos? Cá para mim, a avó deles também lhes trauteou a infância com a Rosinha dos Limões! Esperta a Rosinha! E ali, no teatro de bolso do Orfeão de Águeda, eu juro que vi limões em forma de notas, a dançarem no ar, os meus olhos atrás delas, as minhas mãos quase a agarrá-las, eu a levantar-me, eu quase a correr para o palco, e eles a arrecadarem a Rosinha a sete chaves, na alma dos instrumentos, e a ovação do público a estalar por todos os poros!
E afinal que fazem eles que preste? Quase me azedo de inveja!
Eles só nos enfeitiçam! Só nos fazem perder a compostura, rir, aplaudir, abanar o capacete, passar-nos mesmo, esquecer o déficit, as aulas de substituição, a idade da reforma, enfim aquele rol de coisas sérias que nos ajardinam o dia a dia!
É que, durante quase duas horas, ninguém segurou as pontas. Foi uma violência aquele cortejo de talento! Partiu-se de Águeda e andarilhou-se pelo resto do mundo. Com a segurança do Artur, a sobriedade do Rogério, a entrega do Bitocas e a paixão do Luís, que, se o deixassem, levantava voo e ainda hoje andava a flautear nas nuvens. Todos a electrizarem-nos.
Se o concerto fosse na Casa a Música, ou no Centro Cultural de Belém, quem sabe se mais peregrinos se juntavam àquela caminhada? Mas que aquela noite fica na memória de um teatro a rebentar pelas costuras, ah isso, que ninguém tenha a mais pequena dúvida! Artistas!
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